Iemanjá
Breno Lacerda
Iemanjá é, sem dúvida, o orixá mais popular no Brasil. Aqui no
Rio Grande do Sul, o seu dia é na sexta-feira.
Dia 2 de fevereiro, em todas as praias do Brasil, comemora-se o dia de
Iemanjá. Em Porto Alegre - RS - neste dia, há a famosa procissão de Nossa Senhora
dos Navegantes. É uma festa híbrida, na qual, católicos saúdam Nossa Senhora e
Umbandistas, Iemanjá, pois no sincretismo religioso Iemanjá corresponde a Nossa
Senhora dos Navegantes.
Nossa deusa é a rainha de todas as águas do mundo, seja dos
rios, seja do mar. O seu nome (Yemojá) deriva da expressão YéYé Omó Ejá, que
significa, mãe cujo filhos são peixes. Na África era cultuada pelos egbá, nação
Iorubá da região de Ifé e Ibadan onde se encontra o rio Yemojá. Esse povo
transferiu-se para a região de Abeokutá, levando consigo os objetos sagrados
da deusa, e foram depositados no rio Ogum, o qual, diga-se de passagem, não tem
nada a ver com o Orixá Ogum, apesar de no Brasil Iemanjá ser cultuada nas águas
salgadas, a sua origem é de um rio que corre para o mar. Inclusive, todas as
suas saudações, orikís e cantigas remetem a essa origem, Odó Iyà, por exemplo,
significa mãe do rio, já a saudação Erù Iyà faz alusão às espumas formadas do
encontro das águas do rio com as águas do mar, sendo esse um dos locais de
culto a Iemanjá.
Iemanjá é a mãe de todos os filhos, mãe de todo mundo. É ela
quem sustenta a humanidade e, por isso, os órgãos que a relacionam com a
maternidade, ou seja, a sua vulva e seus seios chorosos, são sagrados.
Iemanjá é o espelho do mundo, que reflete todas as diferenças,
pois a mãe é sempre um espelho para o filho, um exemplo de conduta. Ela é a mãe
que orienta, que mostra os caminhos, que educa, e sabe, sobre tudo, explorar as
potencialidades que estão dentro de cada um, como fez com os guerreiros de
Olofin, mostrando o quanto eram bons nos seus ofícios, mas dizendo, ao mesmo
tempo, que a guerra maior é a que travamos contra nós mesmos.
A energia de Iemanjá juntou-se a Orugan. Dessa interação
nasceram diversos omo- Orixás e dos seus seios rasgados jorraram todos os rios
do mundo. Iemanjá é a própria água, suas lágrimas transformaram transformar num
rio que correu em direção ao oceano. Portanto, não é por acaso que as lágrimas
e o mar tem o mesmo sabor.
Iemanjá é a mãe que não faz distinção dos seus filhos, sejam
como forem, tenham ou não saído do seu ventre.
Características
dos filhos de Iemanjá
Segundo
Verger (1992) o arquétipo dos filhos de Iemanjá, é o de pessoas imponentes, majestosos e belos, calmos,
sensuais, fecundos, cheios de dignidade e dotados de irresistível fascínio (o
canto da sereia). São voluntariosos, fortes, rigorosos, protetores, altivos e,
algumas vezes, impetuosos e arrogantes; têm o sentido da hierarquia, fazem-se
respeitar e são justos, mas formais;
põem à prova as amizades que lhes são devotadas, custam muito a perdoar uma
ofensa e, se a perdoam, não a esquecem jamais. Preocupam-se com os outros, são
maternais e sérios. Sem possuírem a vaidade de Oxum, gostam do luxo, das
fazendas azuis e vistosas, das jóias caras. Eles têm tendência à vida
sumptuosa, mesmo se as possibilidades do quotidiano não lhes permitem um tal
fausto.
As
filhas de Iemanjá são boas donas de casa, educadoras pródigas e generosas,
criando até os filhos de outros (Omulu). Não perdoam facilmente, quando
ofendidas. São possessivas e muito ciumentas.
São
pessoas muito voluntariosas e que tomam os problemas dos outros como se fossem
seus. São pessoas fortes, rigorosas e decididas. Gostam de viver em ambientes
confortáveis com certo luxo e requinte. Põe à prova as suas amizades, que
tratam com um carinho maternal, mas são incapazes de guardar um segredo, por
isso não merecem total confiança. Elas costumam exagerar nas suas verdades
(para não dizer que mentem) e fazem uso de chantagens emocionais e afetivas.
São pessoas que dão grande importância aos seus filhos, mantêm com eles os
conceitos de respeito e hierarquia sempre muito claros.
Nas
grandes famílias há sempre um filho de Iemanjá, pronto a envolver-se com os
problemas de todos, pois gosta tanto disso que pode revelar-se um excelente
psicólogo.
Fisicamente,
os filhos de Iemanjá tendem à obesidade, ou a uma certa desarmonia no corpo. As
mulheres, por exemplo, acabam por ficar com os seios caídos e as nádegas
contidas e preferem os cabelos compridos. São extrovertidos e sabem sempre de
tudo (mesmo que não saibam).
VERGER, Pierre. Orixás. São Paulo, Circulo do Livro. 1992.